Este poema faz parte do livro Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade.
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
- Carlos Drummond de Andrade -
Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)
"Sentimento do Mundo" é o terceiro livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1940, escrito após "Alguma poesia" (1930) e "Brejo das almas" (1934). Drummond, considerado pela crítica nacional um dos maiores poetas brasileiros, mostra nessa obra sua faceta mais madura e atenta às fragilidades e angústias humanas.
Em Sentimento do mundo, o poeta revela principalmente sua preocupação com as transformações de um mundo ameaçado pelo Nazismo e pela Segunda Guerra Mundial e fragilizado pela ditadura varguista. Diante desse cenário, Drummond lança-se a novas dimensões temáticas: a política e a social, as quais amadurecem em A Rosa do Povo (1945). Dessa observação atenta das tensões cotidianas, surge uma acidez que revela um poeta inquieto de seu tempo, mas sem perder a delicadeza com que se expressa desde seus primeiros versos, nos quais sobressai uma visão lúcida e mais subjetiva da realidade. O crítico Silviano Santiago vê em Sentimento do Mundo uma visão de mundo "sombria e pessimista (...) que se justapõe à esperança da revolução e da utopia”. Deste cruzamento entre o "eu" e o mundo, surge uma poesia mais compromissada e um poeta mais consciente diante de importantes questões humanas e das complexas relações que o homem trava com seu tempo, em uma linguagem seca e precisa. (in wikipedia.org)
Poemas do livro "Sentimento do mundo" (análise, questões):
Em Sentimento do mundo, o poeta revela principalmente sua preocupação com as transformações de um mundo ameaçado pelo Nazismo e pela Segunda Guerra Mundial e fragilizado pela ditadura varguista. Diante desse cenário, Drummond lança-se a novas dimensões temáticas: a política e a social, as quais amadurecem em A Rosa do Povo (1945). Dessa observação atenta das tensões cotidianas, surge uma acidez que revela um poeta inquieto de seu tempo, mas sem perder a delicadeza com que se expressa desde seus primeiros versos, nos quais sobressai uma visão lúcida e mais subjetiva da realidade. O crítico Silviano Santiago vê em Sentimento do Mundo uma visão de mundo "sombria e pessimista (...) que se justapõe à esperança da revolução e da utopia”. Deste cruzamento entre o "eu" e o mundo, surge uma poesia mais compromissada e um poeta mais consciente diante de importantes questões humanas e das complexas relações que o homem trava com seu tempo, em uma linguagem seca e precisa. (in wikipedia.org)
Poemas do livro "Sentimento do mundo" (análise, questões):
- "Sentimento do Mundo"
- "Confidência do Itabirano"
- "Poema da Necessidade"
- "Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte"
- "Tristeza do Império"
- "O Operário no Mar"
- "Menino Chorando na Noite"
- "Morro da Babilônia"
- "Congresso Internacional do Medo"
- "Os Mortos de Sobrecasaca"
- "Brinde no Juízo Final"
- "Privilégio do Mar"
- "Inocentes do Leblon"
- "Canção de Berço"
- "Indecisão do Méier"
- "Bolero de Ravel"
- "La Possession du Monde"
- "Ode no Cinquentenário do Poeta Brasileiro"
- "Os Ombros Suportam o Mundo"
- "Mãos Dadas"
- "Dentaduras Duplas"
- "Revelação do Subúrbio"
- "A Noite Dissolve os Homens"
- "Madrigal Lúgubre"
- "Lembrança do Mundo Antigo"
- "Elegia 1938"
- "Mundo Grande"
- "Noturno à Janela do Apartamento"
= = = = = = = = = = =
Continue navegando e aprendendo!
Amor é fogo que arde sem se ver - Camões
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor
- Luís Vaz de Camões
Observações sobre o poema:
Nas estrofes 1, 2 e 3, define-se a natureza paradoxal do Amor, revelando ser um sentimento contraditório.
Na 1ª estrofe, há os efeitos corporais da paixão.
Já na 2ª, as sensações que o Amor desperta na alma do ser humano.
E na 3ª, os dramas em que vivem os apaixonados: presos, dominados e mortos pelo Amor. No final, as afirmações expressas nas estrofes anteriores se deparam com uma dúvida: como o Amor pode despertar nos seres a amizade, se ele é contrário a si mesmo?
Questões sobre o soneto AMOR É FOGO:
I. Vale-se de uma forma relativa para definir o amor.
II. Constrói-se sobre antíteses.
III. Constrói-se sobre metonímias que remetem à mulher amada.
Quais estão corretas?
(A) Apenas I.
(B) Apenas II.
(C) Apenas III.
(D)Apenas I e II.
(E) I, II e III.
Gabarito:
1. D
Continue navegando e aprendendo!
Transforma-se o amador na coisa amada - Camões
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois com ele tal alma está liada.
Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim como a alma minha se conforma,
Está no pensamento como ideia;
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.
(Luís de Camões, Lírica: redondilhas e sonetos, Rio de Janeiro:
Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)
Ediouro / São Paulo: Publifolha, 1997, p. 85.)
Questões sobre o poema:
Unicamp - Questão 1 - Um dos aspectos mais importantes da lírica de Camões é a retomada renascentista de ideias do filósofo grego Platão. Considerando o soneto citado, pode-se dizer que o chamado “neoplatonismo” camoniano
a) é afirmado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a união entre amador e pessoa amada resulta em uma alma única e perfeita.
b) é confirmado nos dois últimos tercetos, uma vez que a beleza e a pureza reúnem-se finalmente na matéria simples que deseja.
c) é negado nos dois primeiros quartetos, uma vez que a consequência da união entre amador e coisa amada é a ausência de desejo.
d) é contrariado nos dois últimos tercetos, uma vez que a pureza e a beleza mantêm-se em harmonia na sua condição de ideia.
Gabarito:
Questão 1. A
A voz do canavial - João Cabral de Melo Neto
O poema abaixo, de João Cabral de Melo Neto, integra o
livro A escola das facas.
A voz do canavial
Voz sem saliva da cigarra,
do papel seco que se amassa,
de quando se dobra o jornal:
assim canta o canavial,
ao vento que por suas folhas,
de navalha a navalha, soa,
vento que o dia e a noite toda
o folheia, e nele se esfola.
= = = =
Questão sobre o poema:
(Gabarito abaixo)
1 (ITA). Sobre o poema, é INCORRETO afirmar que a descrição
A) compara o som das folhas do canavial com o da cigarra.
B) põe em relevo a rusticidade da plantação de cana de açúcar.
C) destaca o som do vento que passa pela plantação.
D) associa o som do canavial com o amassar das folhas de papel.
E) faz do vento a navalha que corta o canavial.
A voz do canavial
Voz sem saliva da cigarra,
do papel seco que se amassa,
de quando se dobra o jornal:
assim canta o canavial,
ao vento que por suas folhas,
de navalha a navalha, soa,
vento que o dia e a noite toda
o folheia, e nele se esfola.
= = = =
Questão sobre o poema:
(Gabarito abaixo)
1 (ITA). Sobre o poema, é INCORRETO afirmar que a descrição
A) compara o som das folhas do canavial com o da cigarra.
B) põe em relevo a rusticidade da plantação de cana de açúcar.
C) destaca o som do vento que passa pela plantação.
D) associa o som do canavial com o amassar das folhas de papel.
E) faz do vento a navalha que corta o canavial.
Assinar:
Postagens (Atom)