Soneto do desmantelo azul
Carlos Pena Filho
(dedicado a Samuel Mac Dowell Filho)
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E, afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.
(PENA FILHO, Carlos. Livro Geral. Poemas. 2 ed. Org. Tania Carneiro Leão. Recife: Edição do organ., 1999.)
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