Soneto oco (Carlos Pena Filho)

Soneto oco

Carlos Pena Filho

Neste papel levanta-se um soneto
de lembranças antigas sustentado,
pássaro de museu, bicho empalhado,
madeira apodrecida de coreto.

De tempo e tempo e tempo alimentado,
sendo em fraco metal, agora é preto.
E talvez seja apenas um soneto
de si mesmo nascido e organizado.

Mas ninguém o verá? Ninguém. Nem eu,
pois não sei como foi arquitetado
e nem me lembro quando apareceu.

Lembranças são lembranças, mesmo pobres.
Olha, pois, este jogo de exilado
e vê se entre as lembranças te descobres.

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